CORPO, SAÚDE E
BELEZA
Educação Física – 1º Ano
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Todo professor de Ensino Médio percebe o impacto que certos
modelos de beleza corporal,insistentemente propagados pelas mídias(televisão,
revistas etc.), exercem sobre os alunos,que, com frequência, julgam-se
obesos,querem emagrecer e tornar-se musculosos.Para isso, aderem a regimes
“milagrosos”, praticam exercícios de forma equivocada e eventualmente fazem uso
de substâncias proibidas,como anabolizantes e remédios que inibem o apetite,
com prejuízos para a própria saúde.
Basta prestar atenção às capas das
revistas voltadas para o público adolescente e jovem (em especial para as
meninas), à venda em qualquer banca de jornal, e constatar o que sugerem ou
prometem explicitamente: “Emagreça comendo de tudo!”, “Defina seus músculos com
apenas 15 minutos de ginástica!”, “Corpo novo em três
meses!” etc. A personagem central das capas é sempre uma mulher jovem
(raramente de etnia negra), bela, magra e sorridente, em geral trajando biquíni,
fotografada das coxas para cima, em pose sensual. Também as figuras masculinas
são, em geral,homens jovens e brancos, às vezes com o torso nu e pernas
expostas, para exibir uma musculatura bem delineada.
No
interior dessas revistas também sempre encontramos programas de
exercícios ginásticos para diversos grupos musculares, com a promessa de
“diminuir a barriga”, “endurecer o bumbum” etc., ou a sugestão de corridas,
caminhadas e prática de esportes para “perder calorias” e, portanto, emagrecer.
Percebe-se aí como o exercício físico não é associado à saúde ou ao bem-estar, mas
a um modelo estereotipado de beleza corporal caracterizado pela extrema magreza
corporal. Se calcularmos o índice de massa corpórea – IMC (peso dividido pela
altura ao quadrado) das modelos e artistas
estampadas nas capas, encontraremos valores muito baixos, que indicam magreza, às
vezes abaixo do mínimo para que uma pessoa seja considerada saudável, além de estarem
muito distantes da média nacional.
Todavia, para esculpir esse modelo corporal
definido pelas mídias (para mulheres e homens) não basta apenas o exercício físico,
nem mesmo conjugado com dieta. Exige também a intervenção cirúrgica (lipoaspiração,cirurgia
plástica propriamente dita, próteses de silicone). Tudo isso, com o devido
suporte de supostas evidências científicas, aumenta o oferecimento de produtos
e serviços associados à busca desse ideal de beleza corporal – massagens,
cosméticos, equipamentos de ginástica domésticos, alimentos light e diet etc. – no contexto do chamado “mercado do corpo e do fitness”. Contraditoriamente, esse mercado convive em nossa
realidade com bolsões sociais de pobreza e miséria, nos quais há ainda muitos
brasileiros que passam fome!
Esse bombardeio de informações verbais e visuais
fixa um modelo de beleza (o qual contribui decisivamente para a construção das
representações sociais do corpo) e, ao propor os meios para alcançá-lo com
facilidade ilusória, não mais nos dizem: “Você pode...”, mas “Você deve!”. É
muito difícil resistir a essa pressão, e a partir de certo grau de adesão às
práticas alimentares e de exercitação física sugeridas pode haver
comprometimento da saúde, bem como constrangimento social decorrente da sensação
de não atingir o padrão idealizado.
Tais referências externas dificultam o
autoconhecimento, o reconhecimento das possibilidades do ser humano e seus
limites tal como é, e restringem as possibilidades do Se-Movimentar em jogos,
esportes, ginásticas, lutas e atividades rítmicas a certos objetivos muito específicos
(emagrecer, delinear a musculatura etc.), empobrecendo seu potencial formativo. Em todos os canais de comunicação, e também
nos espaços públicos, ditam-se as regras de cultivo do corpo. Dentre os exercícios
físicos, difundiram-se a musculação, o fisiculturismo, as atividades de fitness. O corpo belo é aquele sempre “superdefinido”, “durinho”,
sem celulite ou estrias.
Apesar
dos avanços em relação à compreensão dos
mecanismos pelos quais a alimentação e o exercício físico podem contribuir para
aquisição e manutenção de níveis adequados de saúde, a busca por um determinado
padrão de perfectibilidade da beleza impulsiona o consumo de produtos, de
práticas e de recursos nem sempre compatíveis com esse propósito. Diante da possibilidade (ou ilusão...) de obter
resultados expressivos em curto espaço de tempo, muitos jovens passam a adotar condutas
por vezes enganosas ou mesmo prejudiciais à saúde, entre as quais se encontram as
dietas “milagrosas” e o uso inadequado de suplementos alimentares.
Modificações drásticas na dieta que resultam
em perdas acentuadas de peso em curto espaço de tempo são difíceis de serem
mantidas. Além disso, a perda de peso observada decorre principalmente da
redução hídrica (perda de água), bem como da perda de tecido magro,
permanecendo as reservas de gordura quase inalteradas, especialmente em virtude
da diminuição na taxa metabólica de repouso (energia gasta para manter o funcionamento
orgânico durante o estado de repouso). Em verdade, programas saudáveis de emagrecimento
preconizam que a perda ponderal não deva exceder
1% do peso corporal total por semana, evitando-se assim prejuízos na regulação
metabólica, função imunológica, integridade óssea e manutenção da capacidade funcional
ao longo do envelhecimento.
Outros problemas que afetam frequentemente
os adolescentes, diante do forte apelo social em
favor de padrões de beleza caracterizados
pela magreza corporal,são distúrbios
alimentares como a anorexia e
a bulimia.
A anorexia nervosa, mais comum entre as
meninas, caracteriza-se pelo desejo obsessivo de manter o peso corporal abaixo
dos níveis normais para a faixa etária e estatura em virtude da preocupação
excessiva com a imagem corporal que se encontra distorcida, pois pessoas
anoréxicas se percebem gordas apesar de sua magreza. Pela “magreza”, essas pessoas
se mantêm em jejum por longos períodos e ingerem menos alimentos que o necessário para manter o balanço
energético, além de estimularem compulsivamente o maior gasto energético possível em
sessões de exercícios.
A bulimia nervosa caracteriza-se por episódios
frequentes de ingestão alimentar em excesso num curto período de tempo, quase
sempre seguidos por jejum, uso abusivo de laxantes ou diuréticos, vômitos
autoinduzidos, ou prática compulsiva de exercícios, numa tentativa de evitar o
aumento de peso após o exagero alimentar.
Controle ponderal, níveis de atividade física e obesidade
A manutenção do nosso peso corporal obedece a um mecanismo
regulador encarregado de equilibrar a ingestão alimentar (influxo e consumo
calórico) com o custo energético (gasto calórico ou produção de energia).
quando, por qualquer motivo, esse equilíbrio é rompido, ocorre modificação no
peso corporal. Se a quantidade de calorias adquiridas pela alimentação
ultrapassar aquela utilizada para atender as necessidades
diárias de funcionamento do organismo (gastos com metabolismo basal, termogênese
e atividade física), esse excesso será armazenado sob a forma de gordura no tecido
adiposo, ocasionando aumento ponderal (ganho
de peso corporal). Uma ingestão reduzida, por sua vez, associada a um maior
gasto energético, promove a redução ponderal (perda de peso corporal).
A obesidade (acúmulo excessivo de gordura corporal,
acima dos limites de normalidade esperados)é um fenômeno multifatorial
complexo,mas se sabe que a alimentação e a falta de atividade física são
fatores importantes, especialmente por sua relação com condições ambientais e
aspectos comportamentais diversos.
A redução dos níveis de atividade física
(hipocinesia)é um dos principais responsáveis pelo aumento excessivo
de peso a partir do acúmulo de gordura nas
reservas corporais. Muitos estudos sustentam
que o aumento da adiposidade,
normalmente associado ao processo de
envelhecimento, decorre principalmente do nível de atividade física, uma vez
que as pessoas entram em sedentarismo progressivo com o passar dos anos.
A condição mais adequada para que se possa estabelecer um
controle efetivo sobre o fenômeno da obesidade
requer a associação entre exercícios e
dieta. Em crianças e adultos moderadamente obesos,
essa combinação oferece maior
possibilidade de atingir balanço calórico negativo e, consequentemente, redução
da gordura e do peso corporal, comparada ao exercício ou à dieta isoladamente.
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