A Grécia Antiga foi o berço das reflexões
filosóficas
mais reconhecidas sobre estética e beleza que passaram a nortear a nossa civilização.
O tema da beleza foi associado aos conceitos de harmonia, proporção, simetria e
esplendor. Relacionava-se também à ideia de justiça e de conhecimento. As
formas perfeitas e as medidas simétricas solidificaram um modo “matemático” de
ver a beleza.
Na mitologia grega, o deus que representa a
beleza masculina é Apolo, considerado o mais belo do Olimpo e também o deus
protetor das artes (poesia, música, dança etc.) e da medicina. Outro mito
greco-romano também muito conhecido é Narciso, jovem de singular beleza, cuja
vida seria longa desde que não contemplasse, jamais, a própria imagem. Conta o
mito, porém, que, no dia em que viu seu rosto refletido nas águas de uma fonte,
Narciso se apaixonou tão perdidamente por sua própria imagem que, de tanto
contemplá-la, morreu afogado.
A civilização grega também difundiu a ginástica
como o elemento da formação integral do indivíduo, cultuando a harmonia da
forma física e o desenvolvimento do espírito. A educação, segundo o filósofo
Platão, deveria proporcionar ao corpo e à alma toda a perfeição e a beleza de
que são capazes. Ao lado da preparação física, os poemas homéricos eram à base
dessa educação que se pautava em heróis e na virilidade guerreira. Entretanto,
ao final do século IV a.C., as manifestações religiosas do politeísmo grego
(inclusive
os Jogos Olímpicos) foram proibidas. Gradativamente,
a cultura religiosa e a ideia de transitoriedade do corpo mudaram o foco da beleza
mundana para a celestial. Com o avanço da religião cristã evidenciou-se a
compreensão do corpo feminino como aquele da beleza contemplativa e
inalcançável, ao passo que o corpo masculino trazia a marca da força e da
invencibilidade.Os homens eram os defensores dos princípios
e das virtudes, responsáveis pelo trabalho na
terra e pelo sustento das famílias.
Na Idade Média, o corpo passou a
identificar-se como o lugar de encarceramento do espírito. Como as formas
físicas eram consideradas passageiras, cuidar do corpo era considerado pecado.
Esse moralismo medieval fortaleceu o dualismo da beleza entre interna e externa,
entre espiritual e física. No século XI, a
beleza
feminina foi espiritualizada. Houve uma respeitosa adoração à mulher,
idolatrada num amor platônico e inatingível, pela voz dos trovadores e dos
romances cavalheirescos. Enaltecia-se a beleza da mulher angelical, de traços
delicados, pele clara e cabelos em requintados penteados.
Com o cristianismo alteraram-se os
princípios que norteavam
o sentido de beleza. As coisas belas se revelavam na alma e não fora dela. Os
exercícios físicos, que antes eram difundidos para expressar a beleza interior,
passaram a ter a conotação de desviar o homem do encontro com Deus.
O Renascimento, movimento intelectual, estético
e social ocorrido nos séculos XIV e XV retomou a cultura física, as artes, a
música, a ciência e a literatura tão valorizadas na Antiguidade ocidental.
Houve mais investimentos na educação e na saúde. A mulher,antes inspirada na
imagem de “Maria”, virgem,pura, angelical e inalcançável, passou a ser adorada
por suas formas físicas. A beleza do corpo foi novamente explorada.
O corpo passou a ser
dissecado, dividido e analisado em sua composição biológica para ser com-preendido pela ciência. Destaca-se o trabalho de Leonardo da Vinci
(1452-1519), que estudou os movimentos dos músculos e das articulações, criou
as regras de proporção do corpo humano e produziu um dos primeiros tratados de
biomecânica. Seu “homem vitruviano” simbolizava as proporções corporais ideais:
face medindo 1/10 do comprimento total do corpo, a cabeça 1/8 e o tórax 1/4. A
chamada proporção áurea definiu os cânones para que a beleza fosse revelada
pela simetria. Havia, por exemplo, uma medida-padrão entre as duas orelhas ou
os dois olhos. Quanto mais igual, perfeita, simétrica e equilibrada a forma,
maior a contemplação da beleza.
Figura 1 - O homem vitruviano, desenho de Leonardo da Vinci, de 1492.
No século XVIII,
marcado pela Revolução Industrial, estabeleceu-se uma nova concepção de beleza. A ciência
difundiu a ideia de modelagem e adestramento do corpo, por meio dos aparelhos
que ajudavam a corrigir e melhorar posturas consideradas inadequadas do ponto
de vista médico, ortopédico e estético. Surgiram as “séries de exercícios
físicos” para trabalhar grupos musculares específicos. A ginástica, prática
“comprovadamente científica”, anunciada como meio de potencializar as ações e
os gestos, estava relacionada ainda à noção de economia de tempo, de gasto de
energia e de cultivo à saúde.
A partir do século XIX
a ideia de beleza se modificou. O corpo humano foi explorado em seu caráter
terreno, tátil, sensual, sede do pecado e do prazer. Nos anos 1920 e início da
década de 1930, evidenciou-se mais a beleza do corpo feminino que do masculino.
Houve mais liberdade para mostrar os seios em decotes, vestir saias curtas e
expor a sensualidade. No final dos anos de 1930 até 1950, o puritanismo
vulgarizou a mulher que demonstrava sua sensualidade: a beleza do corpo
precisava ser discretamente revelada, ao invés de escandalosamente exibida.
Na década de 1960
vários movimentos pregaram a liberdade sexual e a emancipação da mulher. Muitas
protestaram contra sua histórica submissão. O corpo, antes modelado e preso no
espartilho, ganhou liberdade. Até mesmo as mulheres grávidas começaram a
mostrar a barriga em público.
A exibição do corpo
belo passou a ter cada vez mais valor comercial. A nova beleza do século XX
unia, ainda mais, as forças da ciência, da indústria e do comércio. A beleza,
agora exibida nos meios de comunicação de massa, passou a ser “produto” de
consumo, vendido como imagem e como bem. Cresceu a venda de roupas curtas,
sensuais e exóticas. Maquiagens, sutiãs, lentes de contato; além disso,
maneiras de andar e sentar ditaram regras da postura feminina. Investiu-se numa
nova cultura estética, que instaurou a “ditadura da beleza”. Os estereótipos
foram definidos para cada detalhe: cabelos (surgiu uma variedade de
cosméticos e aumentou o número de pessoas que mudavam a cor e os cachos), olhos
(coloridos, fortes, marcados pelo delineador e pelo rimel), pele (sem manchas,
sem estrias, sem celulite), roupas (justas, com decotes e na moda) e seios (com silicone, ficando muito à mostra). A indústria
químico-farmacêutica produz cremes e remédios que prometem modificar tudo:pele,
contornos e pesos.
Se nos últimos anos o
investimento mercadológico na beleza expandiu seu foco, a exigência da beleza
deixou de ser apenas sonho para modelos e manequins e tornou-se um atributo
essencial a pessoas de todas as idades. Ser belo e aparentar juventude
tornou-se um dever, uma busca a qualquer preço e risco.
Na modernidade o corpo
foi redescoberto, despido e modelado pelos exercícios físicos. Novos espaços e
práticas ginásticas/esportivas passaram a convocara as pessoas para modelar o corpo.
Multiplicaram-se os locais públicos e privados para práticas físicas: academias
de ginástica, salas de musculação, praças, parques e clínicas estéticas.
A ciência aperfeiçoou
ainda mais suas técnicas para inovar no visual. Tornou-se possível alterar a
cor da pele, mudar de rosto, aumentar os seios ou as nádegas, conquistando assim
o padrão de beleza vigente, construído com botox, silicone, tintas, cirurgias
plásticas, dietas arriscadas e muita maquiagem. Com a crescente mercantilização
do corpo feminino, a beleza natural foi desaparecendo, naturalizando-se a
beleza produzida artificialmente.
Se inicialmente a
principal referência de beleza eram as mulheres europeias e nórdicas,este
conceito foi se alargando. Ao longo da história, ora o corpo belo tem seios
grandes, cabelos longos e cacheados, cinturinha desenhada com espartilho e
quadril largo, ora o corpo belo tem cabelos lisos, seios delineados,
quadril estreito, pernas longas, braços finos, com medidas quase
anoréxicas.
Todavia, é preciso
ressaltar que os diferentes grupos culturais podem ver a beleza de maneira diferente − por
exemplo, os grupos indígenas ou afrodescendentes –, tanto a sua própria como a
dos outros grupos. Embora a exploração da beleza feminina seja mais enfatizada,
também os padrões de beleza para os homens têm sofrido transformações. Muitos
homens também começaram a dedicar-se aos cuidados estéticos. Chamados de
“metrossexuais”, eles passaram a frequentar salões de beleza, fazer as unhas,
pintar os cabelos e/ou depilar os pelos do peito.
Em todos os canais de comunicação e também nos
espaços públicos, ditam-se as regras de cultivo do corpo. Dentre os exercícios
físicos, difundiram-se a musculação, o fisiculturismo, as atividades de fitness. O corpo belo é aquele sempre
“superdefinido”, “durinho”, sem celulite ou estrias. Além
da “boa forma”, valorizam-se o tipo de pele, o bronzeado, mesmo que artificial,
e as medidas corporais − alteradas tanto com os recursos das roupas íntimas com
enchimentos, quanto com as cirurgias. Os salões de beleza prometem alisamentos
progressivos e permanentes. Os cabelos modificados (com escovas
“revolucionárias” de formol, chocolate etc.) deixaram até de ser uma característica
para identificar alguém. A beleza vem sendo tão artificializada, que os cabelos
naturais são apontados como falsos. Como você ainda não pintou? Fez chapinha
hoje? As perguntas cotidianas declaram: não sabemos mais o que foi alterado com
recursos da beleza.
A doentia busca pela beleza deve ser um
assunto discutido também na escola, inclusive nas aulas de Educação Física. Devem-se
alertar os alunos que a “beleza” é um tema complexo, influenciado por interesses
religiosos, políticos, ideológicos e comerciais que direcionam nosso modo de
vê-la e buscá-la. Por isso, é primordial compreender que a “beleza” depende do
contexto histórico em que estamos inseridos ou de quais referenciais nos
valemos
para
interpretar a realidade.
Blackjack - Casino, Table Games, Poker, Slots - JTM Hub
ResponderExcluirPlay Blackjack Online in our free casino 군산 출장샵 games and get 경상남도 출장샵 a huge 동두천 출장샵 welcome bonus on your first deposit. 군포 출장샵 Check our Casino Bonus Code and 이천 출장안마 review