quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Ginástica Alternativa - 2º Ano

       
GINÁSTICA ALTERNATIVA
 

       Nas duas ou três últimas décadas, é bastante visível na sociedade brasileira o aumento do interesse por esportes e atividades físicas/exercício em geral, seja nas modalidades esportivas mais tradicionais (futebol, voleibol etc.), nas diversas ginásticas (aeróbica, localizada etc.), nos esportes radicais, sejam pelas chamadas “práticas alternativas”, como pilates, tai chi chuan, ioga, massagem etc. Em outras palavras, o ato de movimentar-se, de fazer exercícios e colocar-se “em forma", está na ordem do dia, ocupando papel de destaque em qualquer discurso preocupado com a qualidade da vida, com a redução do estresse e com a promoção do “bem viver”.

        Nesse sentido, expressões como: “o corpo é um todo”, “consciência do movimento” ou “consciência do corpo pelo movimento” ganham cada vez mais repercussão, especialmente entre os interessados na ginástica alternativa.

       A palavra “alternativa” significa “optativa”, aquilo que vai para “além do tradicional”, ou mesmo “fuga do tradicional”, pois se refere a uma mudança radical e profunda no planejamento, na tomada de decisão e na avaliação da Cultura de Movimento dos nossos tempos. É um “movimento” que nasceu com o ser humano, evoluiu com a civilização, perdeu-se no tempo e foi restaurado em função das necessidades, desejos e interesses do homem, da mulher, do adulto, do jovem, da criança, do idoso, das pessoas com deficiência, enfim, de toda a humanidade; das pessoas carentes e necessitadas de experiências que trouxessem de volta, em simbiose, a força e a sensibilidade. Afinal, os princípios da ginástica alternativa postulam que os praticantes sejam fortemente sensíveis e sensivelmente fortes. Para reforçar esses conceitos, levamos em conta que a força sem sensibilidade é truculência e a sensibilidade sem força é pusilanimidade.

       Força e sensibilidade, firmeza e doçura, vigor e ternura, são polos complementares de uma práxis da ginástica (prática refletida), que busca oferecer um estado de fluxo (experiência máxima de realização) para os praticantes, cujos sentidos ficam inteiramente “antenados” na busca do prazer, da alegria, da felicidade e da realização.

        Seu conceito básico é o de que a percepção do movimento e, portanto, do corpo, está associada ao autoconhecimento do indivíduo, sobretudo por ser o corpo portador de memória, percepção, capacidade de adaptação e consciência.

       Os primórdios da ginástica alternativa foram encontrados em civilizações de até 5 000 anos atrás como a chinesa, a tailandesa, a hindu, a japonesa e a egípcia. No final do século XIX, François Delsarte, interessado no movimento intencionalmente expressivo, desenvolveu um trabalho corporal adotado por professoras norte-americanas e alemãs. Ao longo do tempo, esse trabalho recebeu diversas denominações, como ginástica respiratória, ginástica harmônica, ginástica orgânica, ginástica médica, ginástica de relaxamento, ginástica suave, ginástica holística, eutonia e antiginástica.

       Outro precursor das inúmeras terapias e cuidados corporais foi Wilhelm Reich, que, no século XX, destacou a importância da forma, da estrutura e da função do gesto na compreensão da postura e da atitude humana, fortalecendo a compreensão e a dimensão da ginástica alternativa.

       No Brasil, há 50 anos, o Dr. José Angelo Gaiarsa vem dando vida e dinâmica ao que chamou de Biomecânica Existencial, valorizando o olhar, o toque, a respiração, o movimento consciente, a propriocepção, a reversibilidade entre o tônus emocional e o tônus muscular, as expressões, as forças gravitacionais, antigravitacionais, tangenciais, secantes e as forças internas, juntando o mecânico e o humano da nossa espécie.

        A ginástica alternativa popularizou-se no país na década de 1970, no bojo dos movimentos associados à contracultura, às artes marciais, à ioga e aos discursos do “bem-estar”, influenciando e sendo influenciada por eles.

       Atualmente, no Brasil e no mundo, a ginástica alternativa expandiu-se e diversificou-se em quantidade e qualidade: método Pilates, neopilates, power-pilates, ioga, shiatsu, educação somática existencial, feldenkrais, bioenergética, rolfing, antiginástica, reflexologia, massoterapias, ginástica harmônica, danças circulares, cadeias musculares e articulares, método Mézières, método self-healing, contato e improvisação, ginástica brasileira (baseada na capoeira), eutonia, ginástica suave e muitos outros.

       Para o desenvolvimento do tema, propomos considerar três dos muitos princípios da ginástica alternativa, são eles: suavidade, holismo e ludicidade.

       Ainda que inter-relacionados, esses princípios possuem a sua especialidade.

       O Princípio da Suavidade preconiza a realização do movimento de forma leve, lenta e suave. Atualmente, a vida apresenta um altíssimo grau de velocidade: a informação é veloz, o esporte é veloz, o trabalho é veloz. A pressa impede a meditação, a contemplação e a possibilidade de gozar as belezas do cotidiano. A pressa cria o estresse negativo, um dos grandes males dos nossos tempos.

       O Princípio do Holismo pressupõe, durante a realização do movimento, a integração entre o psíquico e o somático. O termo vem do grego holos, que significa “o todo”, isto é, a personalidade global do ser humano, constituída pelo pensamento (ideias), pela emoção (sentimentos), pela sensação (órgãos do sentido), pela ação (deslocamentos e posições) e pela transcendência (vida espiritual).

        O Princípio de Ludicidade, por sua vez, procura garantir o prazer, a fruição e a alegria durante a
 realização dos movimentos. Está ligado à recreação, aos jogos, às brincadeiras, ao estado de fruição do ser humano,à felicidade.

       As atividades que integram a ginástica alternativa devem ser realizadas com economia de energia, pouca velocidade, baixo impacto, sobrecarga mínima ou inexistente e pequeno estímulo aeróbio.Além disso, devem:

Ø  objetivar o desenvolvimento pessoal e social (singularidade, autonomia, participação ativa, harmonia);

Ø  promover o bem-estar e autorrealização;

Ø  ser coeducativas, ou seja, integrar participantes de ambos os sexos;


Ø  desenvolver a amizade e a cooperação, podendo ser realizadas individualmente, em duplas e em grupos.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Exercícios Resistidos - 2º Ano 2º Bimestre

2º Ano - Prof. Domingos

EXERCÍCIOS RESISTIDOS (MUSCULAÇÃO) E AUMENTO DA MASSA MUSCULAR

Registros históricos apresentam indícios de que a realização de exercícios contra resistência (carga), objetivando o fortalecimento muscular, já era prática entre os antigos povos assírios e babilônicos, bem como na Antiguidade grega, com propósitos estéticos e de ganho de força.
Podemos conceituar a musculação, de modo amplo,como sendo a prática de exercícios contra resistência, e concluir,consequentemente, que uma parcela considerável dos movimentos realizados em nosso dia-a-dia constitui-se de exercícios de musculação. Lambert (1990), por sua vez,destaca a musculação como o conjunto dos processos e meios que levam ao aumento e ao aperfeiçoamento da força muscular, associada ou não a outra capacidade física.
A prática corporal conhecida hoje como musculação ou exercício resistido acompanhou a evolução dos métodos de treinamento, em especial aqueles relacionados às alterações sobre a estrutura músculo-articular,e é regidas,além dos princípios mais gerais do treinamento físico-desportivo,por princípios específicos, quais sejam:
Princípio da Estrutura da Série de Exercícios:
Os grandes grupamentos musculares devem ser exercitados anteriormente aos pequenos,devido à tendência desses pequenos grupamentos chegarem à fadiga antes dos grandes,quando submetidos a cargas proporcionais.No caso dos iniciantes, as séries de exercícios devem alternar os segmentos corporais requisitados durante a realização dos exercícios,visando retardar a fadiga muscular.
Princípio da Especificidade do Movimento
Relaciona-se à utilização da musculação na preparação física para a prática esportiva.. Ao transportar o gesto desportivo para o exercício com pesos,deve-se considerar:
1)      observação do movimento a ser realizado;
2)      análise dos ângulos e músculos envolvidos;
3)      tipo de contração executada;
4)      montagem do programa de acordo com as capacidades físicas que se pretende treinar,bem como seus parâmetros de desenvolvimento.
                       ► Princípio da Sobrecarga
Diz respeito à graduação adequada dos fatores do treinamento (intensidade e volume), de modo a estimular o aumento das capacidades funcionais do organismo. Ou seja,significa obedecer à progressividade de carga de trabalho, a partir do volume e intensidade do programa, objetivando o alcance de novos níveis de adaptações morfofisiológicas, não alcançados com a utilização de cargas constantes.
A progressividade da carga deve considerar a individualidade do praticante quanto à sua condição de iniciante ou atleta, à sua capacidade de recuperação pós-esforço, e à sua capacidade de adaptação a novos estímulos. Em linhas gerais, o volume e a intensidade início de qualquer programa devem ser baixos, e aumentados com a evolução da condição física de cada pessoa,tendo-se, entretanto,a consciência da impossibilidade de aumento infinito da carga de trabalho,estando os atletas mais próximos dos limites máximos.
Apesar dos avanços técnico-científicos já alcançados, a disseminação de informações equivocadas (os chamados ”mitos”) quanto aos efeitos da musculação sobre o organismo ainda dificultam sua difusão como modalidade de atividade física favorável ao desenvolvimento e aprimoramento harmônicos da saúde humana.Um dos fatores que contribui para esta situação está relacionado à concepção que restringe a aplicação da musculação ao fisiculturismo (bodybuilding).
Muito criticado principalmente por sua freqüente associação com os asteróides anabolizantes e outros recursos anabólicos, o fisiculturismo, em razão do desenvolvimento exagerado da musculatura,conseguido à custa de árduos com cargas bastante elevadas, constitui-se, ainda que involuntariamente, no principal responsável pela descriminação da musculação é amplo, e relaciona-se a propósitos esportivos, estéticos e profiláticos.

Intensidade: é o grau de esforço momentâneo necessário à realização de um exercício, traduzido pela quantidade de energia utilizada na execução do mesmo, representado pelo peso (quilagem) em cada série e pela duração dos intervalos entre as mesmas.

Volume: é a quantidade de trabalho realizado, representado pela duração e freqüência das sessões.
 

Aplicabilidade da Musculação

Competição Esportiva
Levantamentos Olímpicos: modalidade desportiva presente desde os primeiros Jogos Olímpicos da Era moderna, cujos atletas buscam elevar a maior quantidade de peso possível, obedecendo a técnicas e regras preestabelecidas.
Culturismo: também conhecido como fisiculturismo (bodybuilding) e modelagem física, o culturismo corresponde à modalidade desportiva em que o atleta busca obter o desenvolvimento máximo de sua musculatura, acima dos níveis normais, sem, contudo, comprometer a simetria e as proporções musculares. Esta modalidade fomenta um vasto mercado em meio à suplementação alimentar, juntamente com a otimização dos processos metabólicos nos treinamentos voltados ao alcance da performance “máxima”.
Treinamento Esportivo
A musculação é largamente utilizada com meio auxiliar no desenvolvimento muscular, vinculada ao aprimoramento da força e da resistência localizada, objetivando maior eficiência do gesto esportivo. Devido à sua elevada demanda energética, a musculação deixou de ser coadjuvante nos programas de treinamentos,e foi incorporada ao planejamento global dos mesmos.
Estética
A utilização da musculação para fins estéticos assemelha-se ao culturismo, visto que o propósito dos praticantes consiste em adquirir uma modelagem física conforme os padrões de simetria e proporcionalidade dos músculos, buscando, entretanto, um desenvolvimento muscular compatíveis com os níveis normais, sem objetivo competitivo. Representa, nos dias atuais, uma das principais motivações para a prática da musculação em sua maior abrangência,especialmente nas academias e nos clubes,contribuindo para a evolução dos recursos materiais destinados à modelagem do corpo.
Profilaxia
A musculação auxilia a prevenção de lesões ósteo-mio-articulares, freqüente no esporte e em vária atividade profissionais,em que a realização de gestos repetitivos solicita grupos musculares localizados, o que favorece o surgimento das referidas lesões. Diante disso, deve-se reservar, durante o ciclo de treinamento e/ou jornada de trabalho, um período para os exercícios de compensação,pelo aumento da força muscular e/ou da resistência dos tendões e ligamentos, buscando equilibrar os grupos musculares antagonistas, diminuindo assim o risco de lesões e vícios posturais.

A prática da musculação também auxilia a combater a fragilidade músculo-esquelético que comumente acompanha as pessoas da terceira idade e a instalação da osteoporose, em geral nas mulheres ao adentrarem o período da menopausa, além de prevenir lesões óste-mio-articulares.

2º Ano - 2º Bim.- Efeito do Treinamento Físico: Fisiológicos, Morfológicos e Psicossociais

Texto - 01 -      2º ANO – 2º BIMESTRE
EFEITO DO TREINAMENTO FÍSICO:
FISIOLÓGICOS, MORFOLÓGICOS E PSICOSSOCIAIS.

     Nas últimas décadas, o conceito de saúde tem sido ampliado para Promoção de Saúde, que enfatiza a importância do desenvolvimento comunitário nas questões da saúde individual e coletiva. Nessa atual definição, há duas grandes perspectivas de atuação: de um lado, atividades individualizadas focando os estilos de vida e concentrando-se em componentes educativos relacionados aos riscos comportamentais modificáveis. Por outro lado, atividades voltadas ao coletivo por meio de políticas públicas e de ambientes favoráveis ao desenvolvimento da saúde.
     Para melhor entendimento dos efeitos da atividade física e do exercício físico sobre o organismo humano, é fundamental o conhecimento dos processos de adaptação (entendida como uma organização orgânica e funcional do organismo), que estão sujeitos a fatores endógenos e exógenos.
     São fatores endógenos (internos): a idade, o sexo e a condição de treinamento. A infância e adolescência são os períodos de grande capacidade de adaptação, a qual, apesar de diminuir com o avanço da idade, mantém-se até o fim da vida. Com relação ao sexo, a capacidade de adaptação se dá de forma diferenciada; por exemplo, a treinabilidade da musculatura na mulher é menor, devido à menor quantidade de testosterona. Quanto à condição de treinamento, os processos de adaptação ocorrem mais rapidamente quanto menor for o nível de desempenho da pessoa.
     São fatores exógenos (externos): a qualidade e quantidade da sobrecarga e a alimentação. A correta sequência de estímulos, observando as normas de treinamento (intensidade, duração, freqüência, sobrecarga), define a forma e a abrangência do processo de adaptação. A alimentação precisa fornecer os elementos nutricionais necessários para a formação de estruturas diante dos estímulos de carga.
     Para cada tipo de treinamento físico há adaptações específicas nos diferentes sistemas do corpo, conforme se verifica a seguir:

TREINAMENTO
ADAPTAÇÕES ESPECIAS
Capacidade anaeróbica
- Maiores níveis intramusculares de substratos anaeróbicos (ATP, PCre e glicogênio;
- maior quantidade e atividade das enzimas-chave, que controlam a fase anaeróbica (glicolítica) do fracionamento da glicose;
- maior capacidade de gerar aumento de rendimento sanguíneo de lactato durante exercício máximo.
Capacidade aeróbica
Adaptações metabólicas:
- aumento no tamanho e número de mitocôndria no músculo esquelético treinado;
- duplicação do nível das enzimas do sistema aeróbico;
- melhora na oxidação de ácidos graxos (metabolismo de gorduras e carboidratos);
- intensificação da capacidade aeróbica das fibras musculares.
Adaptações cardiovasculares;
- ampliação do tamanho do coração (melhor volume sistólico);
- aumento do volume plasmático;
- aumento do volume sistólico de ejeção;
-- diminuição da FC, aumento do débito cardíaco, aumento do oxigênio extraído do sangue, aumento do fluxo sanguíneo, diminuição da PA.
Adaptações pulmonares;
- aumento da ventilação muscular durante exercício máximo;
- hipertrofia da musculatura respiratória (músculos intercostais externos e diafragma).
Outras adaptações:
- modificação na composição corporal;
- transferência de calor corporal.
Resistência muscular
Adaptações neurais;
- maior ativação do Sistema Nervoso Central;
- melhor sincronização das unidades motoras;
- reflexos inibitórios neurais mais intensos.
Adaptações musculares;
- hipertrofia das fibras musculares;
- remodelagem muscular.
Adaptações nos tecidos conjuntivos e ósseo:
- fortalecimento de ligamentos, tendões e tecidos ósseos de apoio.
Outras adaptações;
- modificação na composição corporal.

    Ademais, o treinamento físico, a depender de suas características, pode produzir efeitos positivos ou negativos sobre outros sistemas orgânicos: sistema nervoso autônomo (produz relaxamento ou excitabilidade); sistema nervoso central (aumenta a circulação sanguínea no cérebro); sistema visual (melhora o desempenho visual); sistema sensorial sinestésico (melhora a capacidade de desempenho muscular ou leva à disfunção da propriocepção e surgimento de lesões); sistema imune (estimula a imunidade em atividades leves e de longa duração ou a prejudica em treinamento muito intenso); e sistema endócrino (libera o hormônio do crescimento e melhora o sistema regulador hormonal).
    Quanto aos Aspectos Psicossociais, pode-se falar em efeitos positivos e negativos causados pela atividade física e exercício físico.
     Entre os efeitos positivos estão: redução de vários sintomas de estresse, da ansiedade, da depressão moderada e da instabilidade emocional; melhora na autoestima, no auto-conceito, na imagem corporal e no relacionamento interpessoal.
     Têm sido relatos efeitos negativos decorrentes de treinamento excessivo ou competição inadequada, tais como: transtornos psicossomáticos ou gastrointestinais; alterações de apetite e sono; desvio de comportamento; aumento da ansiedade e agressividade; esgotamento físico e psicológico (burnout); distúrbios cognitivos (falta de atenção e concentração, esquecimento, bloqueio mental); e síndrome de saturação esportiva, além da diminuição dos sentimentos de eficácia, alegria, realização, competência e controle.




sábado, 10 de maio de 2014

História da Beleza - 1º Ano - 2º Bimestre

     A Grécia Antiga foi o berço das reflexões filosóficas mais reconhecidas sobre estética e beleza que passaram a nortear a nossa civilização. O tema da beleza foi associado aos conceitos de harmonia, proporção, simetria e esplendor. Relacionava-se também à ideia de justiça e de conhecimento. As formas perfeitas e as medidas simétricas solidificaram um modo “matemático” de ver a beleza.

     Na mitologia grega, o deus que representa a beleza masculina é Apolo, considerado o mais belo do Olimpo e também o deus protetor das artes (poesia, música, dança etc.) e da medicina. Outro mito greco-romano também muito conhecido é Narciso, jovem de singular beleza, cuja vida seria longa desde que não contemplasse, jamais, a própria imagem. Conta o mito, porém, que, no dia em que viu seu rosto refletido nas águas de uma fonte, Narciso se apaixonou tão perdidamente por sua própria imagem que, de tanto contemplá-la, morreu afogado.

     A civilização grega também difundiu a ginástica como o elemento da formação integral do indivíduo, cultuando a harmonia da forma física e o desenvolvimento do espírito. A educação, segundo o filósofo Platão, deveria proporcionar ao corpo e à alma toda a perfeição e a beleza de que são capazes. Ao lado da preparação física, os poemas homéricos eram à base dessa educação que se pautava em heróis e na virilidade guerreira. Entretanto, ao final do século IV a.C., as manifestações religiosas do politeísmo grego
(inclusive os Jogos Olímpicos) foram proibidas. Gradativamente, a cultura religiosa e a ideia de transitoriedade do corpo mudaram o foco da beleza mundana para a celestial. Com o avanço da religião cristã evidenciou-se a compreensão do corpo feminino como aquele da beleza contemplativa e inalcançável, ao passo que o corpo masculino trazia a marca da força e da invencibilidade.Os homens eram os defensores dos princípios e das virtudes, responsáveis pelo trabalho na terra e pelo sustento das famílias.

     Na Idade Média, o corpo passou a identificar-se como o lugar de encarceramento do espírito. Como as formas físicas eram consideradas passageiras, cuidar do corpo era considerado pecado. Esse moralismo medieval fortaleceu o dualismo da beleza entre interna e externa, entre espiritual e física. No século XI, a
beleza feminina foi espiritualizada. Houve uma respeitosa adoração à mulher, idolatrada num amor platônico e inatingível, pela voz dos trovadores e dos romances cavalheirescos. Enaltecia-se a beleza da mulher angelical, de traços delicados, pele clara e cabelos em requintados penteados.

     Com o cristianismo alteraram-se os princípios que norteavam o sentido de beleza. As coisas belas se revelavam na alma e não fora dela. Os exercícios físicos, que antes eram difundidos para expressar a beleza interior, passaram a ter a conotação de desviar o homem do encontro com Deus.

     O Renascimento, movimento intelectual, estético e social ocorrido nos séculos XIV e XV retomou a cultura física, as artes, a música, a ciência e a literatura tão valorizadas na Antiguidade ocidental. Houve mais investimentos na educação e na saúde. A mulher,antes inspirada na imagem de “Maria”, virgem,pura, angelical e inalcançável, passou a ser adorada por suas formas físicas. A beleza do corpo  foi novamente explorada.

     O corpo passou a ser dissecado, dividido e analisado em sua composição biológica para ser com-preendido pela ciência. Destaca-se o trabalho de Leonardo da Vinci (1452-1519), que estudou os movimentos dos músculos e das articulações, criou as regras de proporção do corpo humano e produziu um dos primeiros tratados de biomecânica. Seu “homem vitruviano” simbolizava as proporções corporais ideais: face medindo 1/10 do comprimento total do corpo, a cabeça 1/8 e o tórax 1/4. A chamada proporção áurea definiu os cânones para que a beleza fosse revelada pela simetria. Havia, por exemplo, uma medida-padrão entre as duas orelhas ou os dois olhos. Quanto mais igual, perfeita, simétrica e equilibrada a forma, maior a contemplação da beleza.

                                          Figura 1 - O homem vitruviano, desenho de Leonardo da Vinci, de 1492.

     No século XVIII, marcado pela Revolução Industrial, estabeleceu-se uma nova concepção de beleza. A ciência difundiu a ideia de modelagem e adestramento do corpo, por meio dos aparelhos que ajudavam a corrigir e melhorar posturas consideradas inadequadas do ponto de vista médico, ortopédico e estético. Surgiram as “séries de exercícios físicos” para trabalhar grupos musculares específicos. A ginástica, prática “comprovadamente científica”, anunciada como meio de potencializar as ações e os gestos, estava relacionada ainda à noção de economia de tempo, de gasto de energia e de cultivo à saúde.

     A partir do século XIX a ideia de beleza se modificou. O corpo humano foi explorado em seu caráter terreno, tátil, sensual, sede do pecado e do prazer. Nos anos 1920 e início da década de 1930, evidenciou-se mais a beleza do corpo feminino que do masculino. Houve mais liberdade para mostrar os seios em decotes, vestir saias curtas e expor a sensualidade. No final dos anos de 1930 até 1950, o puritanismo vulgarizou a mulher que demonstrava sua sensualidade: a beleza do corpo precisava ser discretamente revelada, ao invés de escandalosamente exibida.

     Na década de 1960 vários movimentos pregaram a liberdade sexual e a emancipação da mulher. Muitas protestaram contra sua histórica submissão. O corpo, antes modelado e preso no espartilho, ganhou liberdade. Até mesmo as mulheres grávidas começaram a mostrar a barriga em público.

     A exibição do corpo belo passou a ter cada vez mais valor comercial. A nova beleza do século XX unia, ainda mais, as forças da ciência, da indústria e do comércio. A beleza, agora exibida nos meios de comunicação de massa, passou a ser “produto” de consumo, vendido como imagem e como bem. Cresceu a venda de roupas curtas, sensuais e exóticas. Maquiagens, sutiãs, lentes de contato; além disso, maneiras de andar e sentar ditaram regras da postura feminina. Investiu-se numa nova cultura estética, que instaurou a “ditadura da beleza”. Os estereótipos foram definidos para cada detalhe: cabelos (surgiu uma variedade de cosméticos e aumentou o número de pessoas que mudavam a cor e os cachos), olhos (coloridos, fortes, marcados pelo delineador e pelo rimel), pele (sem manchas, sem estrias, sem celulite), roupas (justas, com decotes e na moda) e seios (com silicone, ficando muito à mostra). A indústria químico-farmacêutica produz cremes e remédios que prometem modificar tudo:pele, contornos e pesos.

     Se nos últimos anos o investimento mercadológico na beleza expandiu seu foco, a exigência da beleza deixou de ser apenas sonho para modelos e manequins e tornou-se um atributo essencial a pessoas de todas as idades. Ser belo e aparentar juventude tornou-se um dever, uma busca a qualquer preço e risco.

     Na modernidade o corpo foi redescoberto, despido e modelado pelos exercícios físicos. Novos espaços e práticas ginásticas/esportivas passaram a convocara as pessoas para modelar o corpo. Multiplicaram-se os locais públicos e privados para práticas físicas: academias de ginástica, salas de musculação, praças, parques e clínicas estéticas.

     A ciência aperfeiçoou ainda mais suas técnicas para inovar no visual. Tornou-se possível alterar a cor da pele, mudar de rosto, aumentar os seios ou as nádegas, conquistando assim o padrão de beleza vigente, construído com botox, silicone, tintas, cirurgias plásticas, dietas arriscadas e muita maquiagem. Com a crescente mercantilização do corpo feminino, a beleza natural foi desaparecendo, naturalizando-se a beleza produzida artificialmente.

     Se inicialmente a principal referência de beleza eram as mulheres europeias e nórdicas,este conceito foi se alargando. Ao longo da história, ora o corpo belo tem seios grandes, cabelos longos e cacheados, cinturinha desenhada com espartilho e quadril largo, ora o corpo belo tem cabelos lisos, seios delineados,
quadril estreito, pernas longas, braços finos, com medidas quase anoréxicas.

     Todavia, é preciso ressaltar que os diferentes grupos culturais podem ver a beleza de maneira diferente − por exemplo, os grupos indígenas ou afrodescendentes –, tanto a sua própria como a dos outros grupos. Embora a exploração da beleza feminina seja mais enfatizada, também os padrões de beleza para os homens têm sofrido transformações. Muitos homens também começaram a dedicar-se aos cuidados estéticos. Chamados de “metrossexuais”, eles passaram a frequentar salões de beleza, fazer as unhas, pintar os cabelos e/ou depilar os pelos do peito.


     Em todos os canais de comunicação e também nos espaços públicos, ditam-se as regras de cultivo do corpo. Dentre os exercícios físicos, difundiram-se a musculação, o fisiculturismo, as atividades de fitness. O corpo belo é aquele sempre “superdefinido”, “durinho”, sem celulite ou estrias. Além da “boa forma”, valorizam-se o tipo de pele, o bronzeado, mesmo que artificial, e as medidas corporais − alteradas tanto com os recursos das roupas íntimas com enchimentos, quanto com as cirurgias. Os salões de beleza prometem alisamentos progressivos e permanentes. Os cabelos modificados (com escovas “revolucionárias” de formol, chocolate etc.) deixaram até de ser uma característica para identificar alguém. A beleza vem sendo tão artificializada, que os cabelos naturais são apontados como falsos. Como você ainda não pintou? Fez chapinha hoje? As perguntas cotidianas declaram: não sabemos mais o que foi alterado com recursos da beleza.

     A doentia busca pela beleza deve ser um assunto discutido também na escola, inclusive nas aulas de Educação Física. Devem-se alertar os alunos que a “beleza” é um tema complexo, influenciado por interesses religiosos, políticos, ideológicos e comerciais que direcionam nosso modo de vê-la e buscá-la. Por isso, é primordial compreender que a “beleza” depende do contexto histórico em que estamos inseridos ou de quais referenciais nos valemos

para interpretar a realidade.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Corpo, Saúde e Beleza - 1º Ano - 1º Bimestre


                                CORPO, SAÚDE E BELEZA
Educação Física – 1º Ano
 




         Todo professor de Ensino Médio percebe o impacto que certos modelos de beleza corporal,insistentemente propagados pelas mídias(televisão, revistas etc.), exercem sobre os alunos,que, com frequência, julgam-se obesos,querem emagrecer e tornar-se musculosos.Para isso, aderem a regimes “milagrosos”, praticam exercícios de forma equivocada e eventualmente fazem uso de substâncias proibidas,como anabolizantes e remédios que inibem o apetite, com prejuízos para a própria saúde.

       Basta prestar atenção às capas das revistas voltadas para o público adolescente e jovem (em especial para as meninas), à venda em qualquer banca de jornal, e constatar o que sugerem ou prometem explicitamente: “Emagreça comendo de tudo!”, “Defina seus músculos com apenas 15 minutos de ginástica!”, “Corpo novo em três meses!” etc. A personagem central das capas é sempre uma mulher jovem (raramente de etnia negra), bela, magra e sorridente, em geral trajando biquíni, fotografada das coxas para cima, em pose sensual. Também as figuras masculinas são, em geral,homens jovens e brancos, às vezes com o torso nu e pernas expostas, para exibir uma musculatura bem delineada.

         No interior dessas revistas também sempre encontramos programas de exercícios ginásticos para diversos grupos musculares, com a promessa de “diminuir a barriga”, “endurecer o bumbum” etc., ou a sugestão de corridas, caminhadas e prática de esportes para “perder calorias” e, portanto, emagrecer. Percebe-se aí como o exercício físico não é associado à saúde ou ao bem-estar, mas a um modelo estereotipado de beleza corporal caracterizado pela extrema magreza corporal. Se calcularmos o índice de massa corpórea – IMC (peso dividido pela altura ao quadrado) das modelos e artistas estampadas nas capas, encontraremos valores muito baixos, que indicam magreza, às vezes abaixo do mínimo para que uma pessoa seja considerada saudável, além de estarem muito distantes da média nacional.

       Todavia, para esculpir esse modelo corporal definido pelas mídias (para mulheres e homens) não basta apenas o exercício físico, nem mesmo conjugado com dieta. Exige também a intervenção cirúrgica (lipoaspiração,cirurgia plástica propriamente dita, próteses de silicone). Tudo isso, com o devido suporte de supostas evidências científicas, aumenta o oferecimento de produtos e serviços associados à busca desse ideal de beleza corporal – massagens, cosméticos, equipamentos de ginástica domésticos, alimentos light e diet etc. – no contexto do chamado “mercado do corpo e do fitness”. Contraditoriamente, esse mercado convive em nossa realidade com bolsões sociais de pobreza e miséria, nos quais há ainda muitos brasileiros que passam fome!

       Esse bombardeio de informações verbais e visuais fixa um modelo de beleza (o qual contribui decisivamente para a construção das representações sociais do corpo) e, ao propor os meios para alcançá-lo com facilidade ilusória, não mais nos dizem: “Você pode...”, mas “Você deve!”. É muito difícil resistir a essa pressão, e a partir de certo grau de adesão às práticas alimentares e de exercitação física sugeridas pode haver comprometimento da saúde, bem como constrangimento social decorrente da sensação de não atingir o padrão idealizado.

       Tais referências externas dificultam o autoconhecimento, o reconhecimento das possibilidades do ser humano e seus limites tal como é, e restringem as possibilidades do Se-Movimentar em jogos, esportes, ginásticas, lutas e atividades rítmicas a certos objetivos muito específicos (emagrecer, delinear a musculatura etc.), empobrecendo seu potencial formativo. Em todos os canais de comunicação, e também nos espaços públicos, ditam-se as regras de cultivo do corpo. Dentre os exercícios físicos, difundiram-se a musculação, o fisiculturismo, as atividades de fitness.  O corpo belo é aquele sempre “superdefinido”, “durinho”, sem celulite ou estrias.

     Apesar dos avanços em relação  à compreensão dos mecanismos pelos quais a alimentação e o exercício físico podem contribuir para aquisição e manutenção de níveis adequados de saúde, a busca por um determinado padrão de perfectibilidade da beleza impulsiona o consumo de produtos, de práticas e de recursos nem sempre compatíveis com esse propósito. Diante da possibilidade (ou ilusão...) de obter resultados expressivos em curto espaço de tempo, muitos jovens passam a adotar condutas por vezes enganosas ou mesmo prejudiciais à saúde, entre as quais se encontram as dietas “milagrosas” e o uso inadequado de suplementos alimentares.

     Modificações drásticas na dieta que resultam em perdas acentuadas de peso em curto espaço de tempo são difíceis de serem mantidas. Além disso, a perda de peso observada decorre principalmente da redução hídrica (perda de água), bem como da perda de tecido magro, permanecendo as reservas de gordura quase inalteradas, especialmente em virtude da diminuição na taxa metabólica de repouso (energia gasta para manter o funcionamento orgânico durante o estado de repouso). Em verdade, programas saudáveis de emagrecimento preconizam que a perda ponderal não deva exceder 1% do peso corporal total por semana, evitando-se assim prejuízos na regulação metabólica, função imunológica, integridade óssea e manutenção da capacidade funcional ao longo do envelhecimento.

     Outros problemas que afetam frequentemente os adolescentes, diante do forte apelo social em favor de padrões de beleza caracterizados pela magreza corporal,são distúrbios alimentares como a anorexia e
a bulimia.

     A anorexia nervosa, mais comum entre as meninas, caracteriza-se pelo desejo obsessivo de manter o peso corporal abaixo dos níveis normais para a faixa etária e estatura em virtude da preocupação excessiva com a imagem corporal que se encontra distorcida, pois pessoas anoréxicas se percebem gordas apesar de sua magreza. Pela “magreza”, essas pessoas se mantêm em jejum por longos períodos e ingerem menos alimentos  que o necessário para manter o balanço energético, além de estimularem compulsivamente o maior gasto energético possível em sessões de exercícios.

     A bulimia nervosa caracteriza-se por episódios frequentes de ingestão alimentar em excesso num curto período de tempo, quase sempre seguidos por jejum, uso abusivo de laxantes ou diuréticos, vômitos autoinduzidos, ou prática compulsiva de exercícios, numa tentativa de evitar o aumento de peso após o exagero alimentar.
  
                Controle ponderal, níveis de atividade física e obesidade

      A manutenção do nosso peso corporal obedece a um mecanismo regulador encarregado de equilibrar a ingestão alimentar (influxo e consumo calórico) com o custo energético (gasto calórico ou produção de energia). quando, por qualquer motivo, esse equilíbrio é rompido, ocorre modificação no peso corporal. Se a quantidade de calorias adquiridas pela alimentação ultrapassar aquela utilizada para atender as necessidades diárias de funcionamento do organismo (gastos com metabolismo basal, termogênese e atividade física), esse excesso será armazenado sob a forma de gordura no tecido adiposo, ocasionando aumento ponderal (ganho  de peso corporal). Uma ingestão reduzida, por sua vez, associada a um maior gasto energético, promove a redução ponderal (perda de peso corporal).

     A obesidade (acúmulo excessivo de gordura corporal, acima dos limites de normalidade esperados)é um fenômeno multifatorial complexo,mas se sabe que a alimentação e a falta de atividade física são fatores importantes, especialmente por sua relação com condições ambientais e aspectos comportamentais diversos.

     A redução dos níveis de atividade física (hipocinesia)é um dos principais responsáveis pelo aumento excessivo de peso a partir do acúmulo de gordura nas reservas corporais. Muitos estudos sustentam que o aumento da adiposidade, normalmente associado ao processo de envelhecimento, decorre principalmente do nível de atividade física, uma vez que as pessoas entram em sedentarismo progressivo com o passar dos anos.

 A condição mais adequada para que se possa estabelecer um controle efetivo sobre o fenômeno da obesidade requer a associação entre exercícios e dieta. Em crianças e adultos moderadamente obesos, essa combinação oferece maior possibilidade de atingir balanço calórico negativo e, consequentemente, redução da gordura e do peso corporal, comparada ao exercício ou à dieta isoladamente.