quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Ginástica Alternativa - 2º Ano

       
GINÁSTICA ALTERNATIVA
 

       Nas duas ou três últimas décadas, é bastante visível na sociedade brasileira o aumento do interesse por esportes e atividades físicas/exercício em geral, seja nas modalidades esportivas mais tradicionais (futebol, voleibol etc.), nas diversas ginásticas (aeróbica, localizada etc.), nos esportes radicais, sejam pelas chamadas “práticas alternativas”, como pilates, tai chi chuan, ioga, massagem etc. Em outras palavras, o ato de movimentar-se, de fazer exercícios e colocar-se “em forma", está na ordem do dia, ocupando papel de destaque em qualquer discurso preocupado com a qualidade da vida, com a redução do estresse e com a promoção do “bem viver”.

        Nesse sentido, expressões como: “o corpo é um todo”, “consciência do movimento” ou “consciência do corpo pelo movimento” ganham cada vez mais repercussão, especialmente entre os interessados na ginástica alternativa.

       A palavra “alternativa” significa “optativa”, aquilo que vai para “além do tradicional”, ou mesmo “fuga do tradicional”, pois se refere a uma mudança radical e profunda no planejamento, na tomada de decisão e na avaliação da Cultura de Movimento dos nossos tempos. É um “movimento” que nasceu com o ser humano, evoluiu com a civilização, perdeu-se no tempo e foi restaurado em função das necessidades, desejos e interesses do homem, da mulher, do adulto, do jovem, da criança, do idoso, das pessoas com deficiência, enfim, de toda a humanidade; das pessoas carentes e necessitadas de experiências que trouxessem de volta, em simbiose, a força e a sensibilidade. Afinal, os princípios da ginástica alternativa postulam que os praticantes sejam fortemente sensíveis e sensivelmente fortes. Para reforçar esses conceitos, levamos em conta que a força sem sensibilidade é truculência e a sensibilidade sem força é pusilanimidade.

       Força e sensibilidade, firmeza e doçura, vigor e ternura, são polos complementares de uma práxis da ginástica (prática refletida), que busca oferecer um estado de fluxo (experiência máxima de realização) para os praticantes, cujos sentidos ficam inteiramente “antenados” na busca do prazer, da alegria, da felicidade e da realização.

        Seu conceito básico é o de que a percepção do movimento e, portanto, do corpo, está associada ao autoconhecimento do indivíduo, sobretudo por ser o corpo portador de memória, percepção, capacidade de adaptação e consciência.

       Os primórdios da ginástica alternativa foram encontrados em civilizações de até 5 000 anos atrás como a chinesa, a tailandesa, a hindu, a japonesa e a egípcia. No final do século XIX, François Delsarte, interessado no movimento intencionalmente expressivo, desenvolveu um trabalho corporal adotado por professoras norte-americanas e alemãs. Ao longo do tempo, esse trabalho recebeu diversas denominações, como ginástica respiratória, ginástica harmônica, ginástica orgânica, ginástica médica, ginástica de relaxamento, ginástica suave, ginástica holística, eutonia e antiginástica.

       Outro precursor das inúmeras terapias e cuidados corporais foi Wilhelm Reich, que, no século XX, destacou a importância da forma, da estrutura e da função do gesto na compreensão da postura e da atitude humana, fortalecendo a compreensão e a dimensão da ginástica alternativa.

       No Brasil, há 50 anos, o Dr. José Angelo Gaiarsa vem dando vida e dinâmica ao que chamou de Biomecânica Existencial, valorizando o olhar, o toque, a respiração, o movimento consciente, a propriocepção, a reversibilidade entre o tônus emocional e o tônus muscular, as expressões, as forças gravitacionais, antigravitacionais, tangenciais, secantes e as forças internas, juntando o mecânico e o humano da nossa espécie.

        A ginástica alternativa popularizou-se no país na década de 1970, no bojo dos movimentos associados à contracultura, às artes marciais, à ioga e aos discursos do “bem-estar”, influenciando e sendo influenciada por eles.

       Atualmente, no Brasil e no mundo, a ginástica alternativa expandiu-se e diversificou-se em quantidade e qualidade: método Pilates, neopilates, power-pilates, ioga, shiatsu, educação somática existencial, feldenkrais, bioenergética, rolfing, antiginástica, reflexologia, massoterapias, ginástica harmônica, danças circulares, cadeias musculares e articulares, método Mézières, método self-healing, contato e improvisação, ginástica brasileira (baseada na capoeira), eutonia, ginástica suave e muitos outros.

       Para o desenvolvimento do tema, propomos considerar três dos muitos princípios da ginástica alternativa, são eles: suavidade, holismo e ludicidade.

       Ainda que inter-relacionados, esses princípios possuem a sua especialidade.

       O Princípio da Suavidade preconiza a realização do movimento de forma leve, lenta e suave. Atualmente, a vida apresenta um altíssimo grau de velocidade: a informação é veloz, o esporte é veloz, o trabalho é veloz. A pressa impede a meditação, a contemplação e a possibilidade de gozar as belezas do cotidiano. A pressa cria o estresse negativo, um dos grandes males dos nossos tempos.

       O Princípio do Holismo pressupõe, durante a realização do movimento, a integração entre o psíquico e o somático. O termo vem do grego holos, que significa “o todo”, isto é, a personalidade global do ser humano, constituída pelo pensamento (ideias), pela emoção (sentimentos), pela sensação (órgãos do sentido), pela ação (deslocamentos e posições) e pela transcendência (vida espiritual).

        O Princípio de Ludicidade, por sua vez, procura garantir o prazer, a fruição e a alegria durante a
 realização dos movimentos. Está ligado à recreação, aos jogos, às brincadeiras, ao estado de fruição do ser humano,à felicidade.

       As atividades que integram a ginástica alternativa devem ser realizadas com economia de energia, pouca velocidade, baixo impacto, sobrecarga mínima ou inexistente e pequeno estímulo aeróbio.Além disso, devem:

Ø  objetivar o desenvolvimento pessoal e social (singularidade, autonomia, participação ativa, harmonia);

Ø  promover o bem-estar e autorrealização;

Ø  ser coeducativas, ou seja, integrar participantes de ambos os sexos;


Ø  desenvolver a amizade e a cooperação, podendo ser realizadas individualmente, em duplas e em grupos.