quarta-feira, 30 de agosto de 2017

FATORES DE RISCO À SAÚDE E DOENÇAS HIPOCINÉTICAS  
 2º Ano -  3º  Bimestre

     Em uma abordagem mais moderna, a saúde é compreendida como uma condição humana com dimensões física, social e psicológica, caracterizada por um continuum com polos positivo e negativo associados aos aumentos na morbidade e/ou mortalidade das populações.

     Segundo dados do Ministério de Saúde (2006), as doenças do aparelho circulatório representam a principal causa de mortes para ambos os sexos em todas as regiões do Brasil (com exceção da Norte). Em segundo lugar, nas estatísticas, estão as mortes associadas a causas externas (especialmente acidentes e homicídios), entre os homens, e as neoplasias (câncer), entre as mulheres.

     Conhecendo-se as principais causas de mortalidade, é importante identificar os fatores de risco ligados a elas. Conceituados como hábitos ou características pessoais que predispõem ao desenvolvimento de patologias, os fatores de risco podem ser divididos em não modificáveis (hereditariedade, sexo, envelhecimento e etnia) e modificáveis (fumo, álcool, drogas, sedentarismo, estresse e alimentação). Como são controlados pela manutenção ou pela mudança dos hábitos diários, os fatores modificáveis podem ser alvo de campanhas educacionais e de saúde que incentivem a adoção de um estilo de vida saudável.

     As doenças do aparelho circulatório (doenças cardiovasculares) afetam tanto o coração – como na doença arterial coronariana e no infarto, quanto os vasos sanguíneos, como na aterosclerose, no acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico (AVE) e na doença vascular periférica. Histórico familiar, sexo masculino e envelhecimento destacam-se como os principais fatores de risco não modificáveis dessas doenças. O tabagismo, o sedentarismo, a dieta inadequada e altos níveis de estresse são os principais fatores modificáveis. Além desses, doenças como diabetes e obesidade são fatores que contribuem para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, muitas vezes por estarem associadas a baixos níveis de atividade física e dietas inadequadas (ricas em gorduras).

     Mais importante do que estabelecer quais fatores são mais relevantes no comprometimento cardiovascular é entender como eles contribuem para o problema e estabelecer os cuidados que devem ser tomados para preveni-lo.

     Quanto aos fatores não modificáveis, é importante que se investigue o histórico familiar. A existência de casos de doenças ou problemas cardiovasculares na família faz que uma atenção maior seja dedicada aos fatores de risco
modificáveis à medida que a idade avança, especialmente entre os homens.

     O tabagismo, associado a uma alimentação/ dieta desequilibrada que favoreça um nível elevado de colesterol sanguíneo, especialmente da lipoproteína de baixa densidade (LDL), além de níveis corporais baixos das vitaminas
A, E e C, pode ocasionar lesão na parede das artérias e favorecer o surgimento da aterosclerose (placa de gordura na camada interna das artérias), condição altamente associada ao desenvolvimento das doenças cardiovasculares. Portanto, redução do tabagismo e melhor qualidade na composição da dieta, em particular no que se refere à ingestão de gordura e de vitaminas, exerceriam efeito protetor sobre o surgimento e o agravamento das doenças cardiovasculares.

     O sedentarismo talvez seja o fator de risco mais prevalente, o que está presente no maior número de casos. Nas pessoas com hábitos sedentários, a aptidão cardiovascular diminui, sobrecarregando o aparelho circulatório durante a realização de atividades físicas. Em contrapartida, o exercício regular aumenta a resistência aeróbia, que promove adaptações nas artérias coronarianas (como aumento de seu diâmetro e diminuição de sua rigidez) e no coração, uma vez que o músculo cardíaco se fortalece. Essas alterações protegem contra distúrbios cardiovasculares. Além disso, pessoas ativas comumente mantêm os outros fatores de risco sob controle (tabagismo, alimentação e estresse).
    
     O estresse, por sua vez, diz respeito à maneira pela qual o organismo reage a qualquer estímulo, podendo ser positivo (quando relacionado a estímulos que promovam adaptações positivas ao organismo, como a atividade física moderada), ou negativo, (quando associado a estímulos prejudiciais ao organismo, como a dor). É difícil delimitar a participação do nível de estresse no risco de doenças cardiovasculares, visto que sob situações estressantes muitos indivíduos adotam hábitos poucos saudáveis (comem, fumam e bebem exageradamente, utilizam drogas, exercitam-se menos etc.). Sabe-se, porém, que há forte relação entre maiores níveis de estresse e cardiopatias em indivíduos que apresentam padrões de comportamento associados à ansiedade, agressividade, hostilidade, exigência e competitividade. Para esses indivíduos, tais riscos só poderão ser minimizados se houver mudança na forma de responder às situações de estresse, o que requer alteração de seu estilo de vida.

     Ao relacionarmos exercícios físicos com estresse, percebemos que as características da atividade geram consequências distintas. Quando o exercício envolve atividade física intensa, prolongada ou repetida sem um intervalo adequado entre as sessões, o organismo é exposto a uma condição de estresse crônico, físico e mental, favorecendo o desenvolvimento de doenças. Em contrapartida, atividades físicas moderadas e/ou de cunho recreativo, praticadas com regularidade, permitem ao organismo recuperar-se adequadamente entre uma sessão e outra tem efeito tranquilizante associado à sensação de bem-estar, além de reações bioquímicas provocadas pelas endorfinas, que podem ajudar a reduzir os níveis de estresse.

     A adoção de um estilo de vida fisicamente ativo é um fator importante para a manutenção de um bom estado de saúde. Porém, algumas condutas inadequadas ou prejudiciais à saúde podem estar atreladas à prática de exercícios físicos. Por exemplo: a ilusão de obter resultados melhores com maior rapidez compromete os benefícios pretendidos com a atividade física regular; dietas diversas, voltadas principalmente para a redução de peso corporal, e uso de suplementos alimentares, esteroides anabolizantes e outras formas de doping, adotados para potencializar os efeitos do treinamento físico e a obtenção de maior rendimento atlético, são igualmente comprometedores.

Doenças hipocinéticas: obesidade, hipertensão e outras

     Conforme ressaltado, o sedentarismo é um dos fatores de risco de maior prevalência (número total de casos) na gênese de patologias que afetam negativamente a saúde, como obesidade, diabetes e hipertensão, referidas como doenças hipocinéticas, o que sugere a adoção de um estilo de vida fisicamente mais ativo como fator de prevenção e promoção/manutenção de um bom estado de saúde.
    
     Manter-se fisicamente ativo implica maior envolvimento com a atividade física, que pode ser definida como qualquer movimento corporal produzido pela musculatura esquelética, que gera um gasto energético superior ao que se despende em repouso. Engloba, portanto, as atividades da vida diária, como tomar banho, vestir-se e comer, as tarefas domésticas, as atividades profissionais, o deslocamento e as atividades de lazer, incluindo exercícios físicos, dança etc.

     Para que a atividade física possa promover e manter benefícios à saúde, é necessário que se induza adaptações positivas sobre o estado de aptidão física. Essas adaptações são feitas, sobretudo, pela prática de exercícios físicos, definidos como toda atividade física planejada, estruturada e repetitiva que tem por objetivo a melhoria e a manutenção da aptidão física, das habilidades motoras ou a reabilitação orgânico-funcional.

     De acordo com NAHAS (2006), considera-se sedentário o indivíduo que, na somatória das atividades físicas, apresenta um gasto energético semanal inferior a 500 kcal. Já o indivíduo que acumula um gasto energético semanal de pelo menos 1 000 kcal é considerado moderadamente ativo.
    
Níveis moderados de atividade física podem reduzir de forma significativa o risco de doenças hipocinéticas (obesidade, hipertensão e outras) Portanto, identificar o perfil de atividade física de cada indivíduo e sua relação com o atual estado de saúde pode ser uma importante estratégia para a promoção de um estilo de vida fisicamente mais ativo e saudável.

Níveis de atividade física e obesidade

     Atualmente, o aumento excessivo de peso devido ao acúmulo de gordura nas reservas corporais (obesidade) está associado principalmente à combinação de baixos níveis de atividade física com alta ingestão calórica ou, especificamente, com alta ingestão de gordura. Ao longo do processo de envelhecimento, é comum observar o aumento da gordura corporal em razão do sedentarismo progressivo. Ex-atletas também estariam propensos ao aumento da gordura corporal em virtude da redução do gasto calórico decorrente da diminuição do nível de atividade física sem a correta adequação na ingestão calórica.

     A evidente associação entre sedentarismo, alimentação inadequada e maior incidência e prevalência de obesidade torna necessária uma rotina fisicamente mais ativa, paralela a hábitos nutricionais adequados. Dessa forma, é possível prevenir e controlar o aumento do peso corporal e suas consequências negativas para a saúde, que causam maior risco de morbidade.

     Participar de programas de exercícios físicos facilita o ajuste entre o gasto energético decorrente das atividades físicas e a ingestão calórica, o que é fundamental no controle da obesidade. Para a elaboração de um programa de exercícios adequado, devem-se considerar as características individuais, como disponibilidade de tempo e preferência motivacional por modalidades diversas (aeróbias e anaeróbias), a fim de se definirem a intensidade e a duração das atividades.

Níveis de atividade física e diabetes

     O diabetes mellitus é uma doença endócrino-metabólica caracterizada por altos níveis glicêmicos, decorrentes da ausência ou da baixa quantidade de insulina no sangue e/ou da ineficiência na ação da insulina. Atualmente, é uma das patologias mais prevalentes em todo o mundo, associada a altas taxas de morbidade e mortalidade. Quando o controle metabólico não é satisfatório, surgem complicações agudas e crônicas que provocam impactos econômicos e sociais.

     Baixos níveis de atividade física podem contribuir indiretamente para o surgimento de quadros de diabetes associados ao maior acúmulo de gordura corporal e consequente aumento de peso. Mas, quando se pensa no diabetes, combater o sedentarismo é essencial para controlar a doença. O exercício físico, associado ou não a dietas especiais e ao uso de fármacos, como insulina e outros hipoglicemiantes, desempenha importante papel no controle da glicemia (taxa de açúcar no sangue), pois melhora os mecanismos de captação de glicose pelos órgãos, como o fígado e músculos. Logo, um diabético fisicamente menos ativo pode encontrar maior dificuldade em controlar seus níveis glicêmicos, o que pode agravar a doença e facilitar o aparecimento de complicações agudas ou crônicas, como problemas renais, oculares e vasculares.

Níveis de atividade física e hipertensão

     A hipertensão tem como característica o aumento da pressão sanguínea acima dos níveis considerados normais para cada faixa etária, sexo e estilo de vida. A pressão elevada provoca sobrecarga hemodinâmica, estimulando uma carga adicional no trabalho cardíaco e danos nas paredes internas dos vasos, especialmente nas artérias. Em adultos, considera-se um indivíduo hipertenso quando sua pressão sanguínea constantemente atinge valores sistólicos acima de 140 mmHg ou valores diastólicos superiores a 90 mmHg. A hipertensão pode provocar diversas complicações vasculares, cardíacas, renais e cerebrais. Comparados a pessoas com pressão arterial normal, os hipertensos correm um risco sete vezes maior de sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) e três vezes maior de ter infarto do miocárdio.


     Uma das consequências do baixo nível de atividade física é uma menor capacidade cardiovascular, o que pode sobrecarregar o sistema cardiocirculatório. Associados a fatores genéticos e nutricionais, o aumento de peso e o nível elevado de estresse pode predispor ao desenvolvimento da hipertensão. Em contraposição,alguns estudos têm demonstrado que a prática regular de exercícios de baixa a moderada intensidade e de longa duração age positivamente sobre a pressão sanguínea, diminuindo o risco de ocorrência de hipertensão.

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